sábado, 2 de julho de 2011

Falando de Amor

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
É o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto
no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos
verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a
respeito dos mesmos fatos que impressionam,
comovem ou mobilizam. É ficar conversando
sem trocar palavras. É receber o que vem do
outro com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado,
não para eles próprios.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais
esperanças. É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidade vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação. Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais a expressão do outro sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

Artur da Távola

4 comentários:

  1. Texto excelente !! Afinidade é tudo, sem precisar dizer palavras. É ficar muito tempo sem ver alguém, e quando reencontrar, falar, começar a sair e ver que existe muita coisa em comum...é relembrar, dar risada juntos, conversar e ver que nada se perdeu... Adorei o texto !!

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  2. Amei o texto... me identiquei muito, pois tenho um amigão (que sempre estará em meu coração), que posso ficar dias, meses sem vê-lo, mas a cada reencontro, tenho certeza que são mágicos.

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  3. Realmente...existem pessoas que passam, se vão, retornam...e que cada vez que reencontramos, por mais tempo que estejam longe, voltam como se nunca tivessem saido do nosso lado. Os assuntos fluem, e as vezes nem precisam de palavras.Isto também acontece por vezes com um amor que pensavamos ser igual aos outros.

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  4. Magnífico!! Simples e verdadeiro, mas, certamente raro...

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